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ARTIGOS

Para que tanta angústia ?

Denise  Machado

De repente vem um aperto no peito, uma sensação de compressão que pode se estender até a garganta... E você se pergunta: o que é isso? De onde isso vem?

 

O psicanalista Jacques Lacan apresenta a angústia como algo certeiro: ela não é a dúvida, ela é a causa da dúvida. É um sinal, um afeto que não engana porque não é traduzido em palavras.

 

É o corpo que fala. Em sua forma mais intensa, quando vem acompanhada de outros sintomas tais como: taquicardia, tontura, enjoo e sensação de morte eminente, é denominada pela psiquiatria como transtorno ou síndrome do pânico.

 

Afastadas as causas orgânicas (distúrbios hormonais, hipertensão, problemas cardíacos, dentre outros), a angústia sinaliza que algo não vai bem e que pode estar ligada ao sentimento de que você não está dando conta do que imagina que os outros esperam de você ou do que idealizou para si mesmo. Em geral, há o sentimento de perigo eminente que pode estar associado ao desabamento daquilo que estava simbolicamente organizado, de um ideal protetor, da falta de garantias e indefinições.

 

Alguns autores como Mario Eduardo Costa Pereira oferecem-nos elementos que nos permitem a pensar na manifestação do pânico, do estado angustioso, como produto da relação do homem com o desamparo.

 

Na atualidade, esse sintoma é mais evidente provavelmente pela falência do laço social, maior individualismo, pelas exigências de um tipo psicológico ideal, bem como estetização da existência (vide o número de revistas e livros que elencam dicas de como você de deve se mostrar e agir para tornar-se um vencedor no trabalho, no amor, sexo, etc.) não levando em conta a individualidade, a singularidade.

 

É como se cada um de nós virasse um produto. Há uma espécie de “ditadura” exigindo que nos mostremos sempre belos, felizes e vencedores. Fica mais difícil dividirmos os nossos medos e tristezas com o outro e, por vezes, pedimos até desculpas quando damos demonstração de que não estamos bem.

 

Queremos ser aceitos, amados e desejados pelos outros, bem como buscamos algumas garantias, estabilidade e certezas (que na verdade são poucas), contudo, a necessidade de aceitação e de controle não pode sufocar ou aprisionar a nossa existência, a nossa vida.

 

Como direção do tratamento, a procura do médico não deve ser descartada, que pode ou não prescrever medicamentos. Os medicamentos podem trazer o alívio rápido dos sintomas, mas o ideal é se deparar com as possibilidades de transformação dessa angústia, através do tratamento com o psicólogo ou psicanalista, permitindo-se a criar outras possibilidades existenciais, inventar algo novo como saída, levando-se em conta a sua singularidade.

 

 

É não encarar a angústia como sua inimiga, como algo que não lhe pertence e que deve desaparecer simplesmente através de um medicamento (que na verdade só vai dar conta do sintoma e não da causa). Ela fala através do corpo sobre seu desejo e pede que você se depare com ela, ela pede elaboração psíquica, ela pede transformação.

 

 

Referências Bibliográficas

 

LACAN, J. – O seminário livro 10- A angústia (1962-1963). Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor, 2005.

 

LAURENT, E. – A sociedade do sintoma- Desangustiar? Rio de Janeiro. Contra Capa Livraria, 2007.

 

PEREIRA, M.E.C. – Pânico e desamparo: Um estudo psicanalítico. São Paulo. Escuta, 1999.

Afinal, o amor pode durar por toda vida ?

                                                                                                

Denise Machado

 

Sempre gostei das letras e versos de Vinícius de Moraes, dentre eles, o Soneto de Fidelidade que termina com o célebre verso sobre o amor: “Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure."
 
Penso que é saudável podermos terminar um casamento ou um relacionamento quando o amor acaba, ou quando a qualidade é ruim e faz mais mal do que bem, mas o que observamos na atualidade é que as relações interpessoais estão se tornando mais voláteis. Na sociedade onde impera o consumo, algumas pessoas tratam os relacionamentos como se fossem produtos descartáveis após certo desgaste. Parece ser mais fácil a separação do que a procura de alternativas para transpor dificuldades, monotonia ou desilusões.
 
A minha experiência clínica e no que vi na vida, leva-me à conclusão de que os casais que vivem uma relação duradoura foram os que perseveraram. É preciso que juntos superem a rotina, os problemas que corroem as relações, as falhas e mudanças que sempre ocorrem.
 
Trata-se de um investimento que exige muita negociação e não pode ser descuidado. Ninguém é perfeito. Não existe pessoa certa. Existem casais que deram certo porque quiseram lidar com as vicissitudes juntos. Não existe “metade da laranja”. Existem duas pessoas inteiras, onde cada um cuida de si e do outro.

 

Ninguém preenche totalmente o que nos falta.

 

É preciso cuidado consigo mesmo. Quem cuida de si gera a admiração e respeito do parceiro quando se trata de uma relação construtiva, o que alimenta o amor. Viver sempre abdicando de seus objetivos e desejos em função do outro gera mágoa e mágoa gera distanciamento.

 

Paralelamente, é necessário também estar atento ao outro, ouvi-lo, manter alguns gestos de carinho e cuidado, mesmo depois da fase da paixão.

 
Detalhe: é preciso que ambos queiram; que haja investimento e empenho de ambas as partes.
 
Amar dá trabalho, relacionamento “rela”; é preciso aprender com o próprio amor, tarefa que dura uma vida...

 

 

 

 

 

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O que o ser humano mais quer é ser desejado por outro ser humano

 

Jacques Lacan

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